It is never too late to fulfill a dream and to start living...
Um filme alemão de baixo orçamento promete ser um dos maiores sucessos do ano. CHERRY BLOSSOMS – HANAMI (HANAMI - CEREJEIRAS EM FLOR) foi apresentado em competição em Berlim e nele a conhecida diretora Doris Dörrie ajudou a fazer praticamente de tudo na produção. O principal suporte artístico do filme está na extraordinária interpretação de Hannelore Elsner. O seu par no filme é também o ótimo (e desconhecido em cinema) Elmar Wepper, que Doris Dörrie foi buscar da televisão onde atuava em produções igualmente baratas.
O curso da história é muito comovente ao mesmo tempo em que faz críticas ácidas ao jeito do ser alemão, em especial sobre os alemães da Bavária, considerados mais metódicos e tradicionalistas. Quem quiser pode ver também referências ao passado alemão nazista, onde a Bavária foi o principal ‘berçário’, e cujo cinema mitificava os símbolos derivados das montanhas. O fetiche da montanha é transferido aqui ao monte Fuji do Japão.
Começa o filme com um médico revelando a uma mulher que o seu marido está com uma doença terminal. Ela não vai contar nada para o marido. Vai tentar estimulá-lo a realizar seus últimos sonhos enquanto é tempo. Aí entra o espírito alemão, regrado, metódico. Ele prefere esperar mais um ano até se aposentar. E “montanha por montanha, na Bavária também as temos, para que ir ao Fuji, mesmo que seja a pretexto de ver o filho que está lá a trabalho?”, ele argumenta.
Aos poucos vamos entrando nesta viagem iniciática. A primeira viagem que ele aceita fazer é para Berlim, onde vivem seus dois outros filhos e netos. Os pais, Trudi e Rudi, são considerados um estorvo para os filhos e ninguém tem tempo para sair com eles. Mas Trudi consegue ao menos ver uma performance de teatro Butô, que ela adora e Rudi não suporta. É quando acontece o inesperado. Na segunda viagem que ele aceita fazer com a mulher, ir a um hotel beira-mar no Báltico, Trudi morre. Que ninguém fique zangado com a leitura deste resumo. A própria Doris Dörrie é quem revela estes acontecimentos na sinopse do filme.
O que realmente está em questão são os elementos emocionais que o espectador irá compor a partir de então. Com Rudi sozinho, sem saber que também está para morrer, ele decide viajar finalmente ao Japão. Mais para realizar o desejo da mulher já morta, do que para ver o filho. Veremos então a transformação de um homem seco e rude em um ser emocional que aos poucos irá perceber o que fez de errado e estúpido na vida. Coisa rara na vida de pessoas que envelhecem aguçando mais que tudo suas contradições. Por isso a comoção que provoca nos espectadores.
O estímulo de Doris Dörrie é como dizer “faça antes de seja tarde”. E o tratamento respeitoso que ela dá à cultura japonesa, mesmo sendo crítica, corrige os desvios do filme anterior de choques culturais com o Japão, a comédia de Sofia Coppola ENCONTROS E DESENCONTROS. Mas o filme alemão também é cruelmente realista. As últimas palavras dos filhos sobre os seus pais fazem ver que os ciclos de insensibilidade seguem se repetindo. Mesmo que o jeito de mistificar uma montanha em nossos dias seja distinto.
Por Leon Cakoff
http://spoilermovies.com/
O curso da história é muito comovente ao mesmo tempo em que faz críticas ácidas ao jeito do ser alemão, em especial sobre os alemães da Bavária, considerados mais metódicos e tradicionalistas. Quem quiser pode ver também referências ao passado alemão nazista, onde a Bavária foi o principal ‘berçário’, e cujo cinema mitificava os símbolos derivados das montanhas. O fetiche da montanha é transferido aqui ao monte Fuji do Japão.
Começa o filme com um médico revelando a uma mulher que o seu marido está com uma doença terminal. Ela não vai contar nada para o marido. Vai tentar estimulá-lo a realizar seus últimos sonhos enquanto é tempo. Aí entra o espírito alemão, regrado, metódico. Ele prefere esperar mais um ano até se aposentar. E “montanha por montanha, na Bavária também as temos, para que ir ao Fuji, mesmo que seja a pretexto de ver o filho que está lá a trabalho?”, ele argumenta.
Aos poucos vamos entrando nesta viagem iniciática. A primeira viagem que ele aceita fazer é para Berlim, onde vivem seus dois outros filhos e netos. Os pais, Trudi e Rudi, são considerados um estorvo para os filhos e ninguém tem tempo para sair com eles. Mas Trudi consegue ao menos ver uma performance de teatro Butô, que ela adora e Rudi não suporta. É quando acontece o inesperado. Na segunda viagem que ele aceita fazer com a mulher, ir a um hotel beira-mar no Báltico, Trudi morre. Que ninguém fique zangado com a leitura deste resumo. A própria Doris Dörrie é quem revela estes acontecimentos na sinopse do filme.
O que realmente está em questão são os elementos emocionais que o espectador irá compor a partir de então. Com Rudi sozinho, sem saber que também está para morrer, ele decide viajar finalmente ao Japão. Mais para realizar o desejo da mulher já morta, do que para ver o filho. Veremos então a transformação de um homem seco e rude em um ser emocional que aos poucos irá perceber o que fez de errado e estúpido na vida. Coisa rara na vida de pessoas que envelhecem aguçando mais que tudo suas contradições. Por isso a comoção que provoca nos espectadores.
O estímulo de Doris Dörrie é como dizer “faça antes de seja tarde”. E o tratamento respeitoso que ela dá à cultura japonesa, mesmo sendo crítica, corrige os desvios do filme anterior de choques culturais com o Japão, a comédia de Sofia Coppola ENCONTROS E DESENCONTROS. Mas o filme alemão também é cruelmente realista. As últimas palavras dos filhos sobre os seus pais fazem ver que os ciclos de insensibilidade seguem se repetindo. Mesmo que o jeito de mistificar uma montanha em nossos dias seja distinto.
Por Leon Cakoff
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