domingo, 31 de maio de 2009
quinta-feira, 28 de maio de 2009
pela sua saúde coma cereja
Os alfarrábios da vovó indicavam a cerejeira (frutos e folhas) como diurético e para a prevenção ou eliminação de cálculos dos rins e das vias urinárias. Recentemente, o estudo de um cientista norte-americano demonstrou que substâncias existentes nas cerejas aliviam os sintomas das inflamações artríticas. O mérito do Dr. R. Jacob, cientista do Agricultural Research System (ARS) na Califórnia, foi demonstrar os caminhos bioquímicos e os efeitos fisiológicos das substâncias com ação antiinflamatória."
terça-feira, 26 de maio de 2009
quando se revela
O amor, quando se revela...
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
Fernando Pessoa
Os teus cabelos negros são os laços que me atam e desatam, que me arrastam. Bicho do mar, ave subitamente esvoaçando no ar, tu ergues-te sobre a minha melancolia. A tua boca é a minha entrada para a asfixia. Porque vagueias tu pelo deserto em busca do vento? Porque persegues a tua sombra? Não encontrarás essa vida que procuras, porque nada permanece.
Do longe chega uma vontade de chorar sem que se saiba o motivo. O tempo, que tudo promete ao esquecimento, quando virá ele em meu auxílio?
O teu corpo, luz sobre a cama. A escuridão chegará de um momento para o outro e tu perdes-te, minha amada, sobre os lençóis num sono que enche a noite. Enroscada como um animal perigoso que ao menor toque atacaria, a luz dos olhos fechada sob as pálpebras docemente descidas. Ainda se vê, no escuro, o seu fulgor. Não sei onde está aquela que eu persigo, por onde se passeia, erguida e nítida, quais os desejos de que se alimenta e os prazeres de que se constrói. Não sei que paisagens a acolhem, que língua humana fala. O teu corpo despido, estendido a meu lado, preste o ataque. Tão frágil que me impede de lhe tocar. Um imenso desejo. A noite toma-te sem fazer perguntas.
Perigos numerosos rondam os viajantes à procura do amor. O esquecimento, o desgaste dos dias, as pequenas coisas que ficam por fazer. Os cavalos estão cansados, não querem seguir para nenhum lado. Só a procura vale a viagem. Os homens giram em tua volta e permanecem mudos. É bom, com uma mulher, unir-se com ternura.
No tecido antes perfeito o rasgão irreparável. O que nos une é o que nos separa. O mais seguro é escapar para o lugar de maior perigo. As palavras são suspiros. Vou sozinho como uma sombra. Partir sem saber quando, ou como. Se não fosse a cega coragem por onde seguiríamos? A viagem que fazemos não é nossa, outros a começaram, outros a terminarão.
A minha querida permanece deitada sobre os lençóis, o doce corpo tapado pelos cabelos negros, os delicados pés fora da cama. De que falarão as senhoras sentadas na mesa vizinha? Da minha solidão?
Nada haverá mais do que isto: vozes, pedras, luz, um braço que se estende. Aves cruzando brancas nuvens à deriva. Estranha é a nossa condição. Como se fossemos daqui. Vozes, pedras, luz. Seres mudos que não falarão.
O meu último pensamento desconheço. O primeiro és tu, claro dia. És tão bela! A teus olhos, respondias.
Pedro Paixão
http://www.pedropaixao.net/
coisas preciosas
domingo, 24 de maio de 2009
duas mãos...
http://www.rabisco.com.br/42/chopin.htm
sábado, 23 de maio de 2009
uma dor cereja...
quinta-feira, 21 de maio de 2009
de mim próprio tenho ciúmes cereja
Ao meu amor, doente
Não me olhes tão no fundo dos olhos:amo-te tanto
que de mim próprio tenho ciúmes.
Gonçalo Salvado
quarta-feira, 20 de maio de 2009
terça-feira, 19 de maio de 2009
suspiro cereja
Espero por ti de noite no 22,
debaixo das estrelas,
onde se encontram em segredo os nossos suspiros cereja... mg
nocturno...o nosso amor!
De noite
passei horas a olhar o céu,
mas só quando vieste
vi nele brilhar as estrelas.
Gonçalo Salvado
red clown
… resultou da encomenda de uma peça coreográfica com um conceito base: máscaras de guerra.
Tudo começa no espaço vazio de uma divisão: um ponto de luz, uma mancha branca de um tapete quadrangular e um piano ao canto. A dimensão dominante é a de uma realidade imaginária que está imbuída da fusão cândida entre a violência que advem de uma solidão forçada de duas personagens - Ela e Ele. Uma sirene rompe a gestualidade dos intérpretes, representação opressiva de um poder que procura controlar os habitantes de um mundo exterior que não aquele.
O conformismo e a anulação da identidade das duas personagens são a forma de luta contra a opressão que é adaptada a um contexto performativo associado a uma representação teatral.
Num exercício para aplacar o divino, cada uma das personagens interage de forma indirecta. Ela interpreta ao piano citações musicais inter-cortadas de um universo pessoal; ele metamorfoseia-se numa personagem grotesca de um imaginário infantil, que é símbolo de inocência.
Neste trabalho, o gesto não é uma imagem, acaba por ser uma ferramenta, um instrumento. Não há só uma imagem no mundo, há muitos jogos gestuais. Diferentes formas de vida e formas de fazer coisas com gestos. Não está tudo junto. Os limites da gestualidade de cada personagem são os limites do seu próprio mundo, que estão sempre a ir contra as paredes do espaço vazio.
Em Clown Lírico em exercício de expiação as citações sonoras e as peças interpretadas ao piano pontuam e guiam com melancolia lírica uma estrutura gestual programada, unida entre si por um fio condutor que tende a reproduzir um tempo emocional e mnemónico, muito mais do que intelectual.
domingo, 17 de maio de 2009
requiem
†Cherry pulled the black dress uniform over her head. Dawn lay just on the horizon, still stretching lazy red fingers into the velvet night. She flipped the collar down and stared out into a blank sky from her bedroom window. The folded scrap of paper felt heavy in her hands. Nicodemus’s rogue delivered it hours ago. Since then she couldn’t sleep, but that didn’t feel new. She dropped the note into the trash and left the room. The kitchen felt dead. Solitary. What is supposed to feel like? She wondered. I knew once, but now that notion is gone from me.Lina came out into the kitchen in a black gown. Cherry lowered her eyes to the table and watched her hands twine around themselves. Case would go into the ground today. Cherry tried not to think about it. Tried not to focus on the exact idea or person they were burying. A job, she thought, that’s all I asked for.The damp caverns of Ironforge flashed before her eyes. The man with all the abacuses, the catacombs. Cherry remembered it all. The rain, it always hung around her. What was so different now? She choked back a tidal wave of tears. Case was gone, the sooner she got that through her head the better.Lina dropped a black velvet bag onto the table. Cherry opened it. Her hand went through the rose petals inside. They flowed through her fingers like silk or water. She closed the velvet bag and tied it to her waist. It felt heavy, felt like a rough stone straight out of the mines. “You okay?” Lina asked.Cherry looked up, “Yeah, why?”“You’re crying,” Lina said.She touched her face and found tears there. Lina reached across the table and took her hand. “Do you want to stay?”“No,” Cherry said. She got to her feet. “We all go. We all pay our respects.”Lina nodded, “Sorry.”They left the house and headed down the road toward the central square around the Tower. The incinerator was there. A massive group had already gathered. Cherry wove her way through the people, bag secured. I’m not a doctor. Case, just Case.She remembered Dorian on the floor of the cobblestone room, Case having the beast in the cage sucking out as much venom as it could through two glass tubes. Did he scream? Cherry lined herself near the front of the mechanical track leading to the furnace. An hour passed in silence. Case’s body lay against a polished mahogany slab, her hair spread around her. A black dress fitted her, hands crossed over her chest. A calm smile covered the elf’s face. Someone had made up her features in deep lavender's and blue. Cherry forced back the clog in her throat. Bah-bah-bah, I don’t want to know names, safer if I don’t, Case whispered.The main center of The Gulch filled with creatures as dawn turned to morning. Cherry took in the faces of Taurens, Trolls, Elves, and Undead, all of them. She reached into the bag, and found Lina’s had there. The girl smiled at her in a sad sort of way.“You don’t need to do this alone,” Lina said.“No…I guess not.”Their hands clasped a scoop of rose petals. Together they spread them over Case’s body. Dozens of others did the same. Case’s body awash in a sea of crimson petals, a tidal mass of dark flowers. Cherry touched the woman’s hand. IT felt cold and rubbery. “I’m so sorry,” she whispered. “I never wanted it to end like this.”A piano and bag pipes sounded near the furnace. Cherry recognized it as the elfin funeral march. She spread the rest of her flowers over Case’s body. The face looked so peaceful. The smile, something that Cherry had rarely seen. Did you get what you wanted? She wondered.Near the incinerator Lilliam stood up next to a podium of burnt ghost wood. Cherry saw the woman out of the corner of her eye, her focus still trained on Case’s face. “We come here today, to mourn,” Lilliam said. The woman’s voice rang out far and clear. “And we will. Let us remember what this woman stood for, what she believed in, what she did for use.”Thousands of rose petals colored the sky. Cherry watched them, distraught, anguished. You don’t find that odd? Case asked.Case and Dorian almost came as a package deal. The furnace fires danced alive. Cherry felt the heat from where she was yards away at the end of the rail. Cremation, that was their only option, The Gulch was too small and people died too fast for there to be a graveyard. She watched a waterfall of rose petals descend onto Case’s body. The motorized track reached the incinerator and then lifted. Cherry watched the body fly into the fire. The scent of burnt roses filled the air. A tauren closed the shaft door to the incinerator, a small elf beside him. Cherry struggled to find a name but couldn’t. The girl manned the Tower that much she knew, but beyond that there was a cloudy haze. I’ve been packing, Case said, leaving.Cherry remembered the luggage, the worn leather straps and cases. Case was leaving Ironforge in search of better things, but where had she ended up? Pulling a bullet out of my chest, Cherry thought. The woman came back, and if it weren’t for her there’d be nothing left of Cherry but a rotted mess of tissue and a black slug in her chest. She touched the scar between her breasts. Case, just Case.You were supposed to outlive me, she thought. Case ‘s voice filled her head, “Don’t worry about the future. The real trouble is apt to never cross your worried mind, it'll blind-side you some Tuesday night. Sometimes you’re ahead, sometimes you’re behind, and the race is long. Be kind to your knees. Your choices are half chance. Use your body, it’s the greatest weapon you will ever own.”Cherry blinked. She reached into her dress and pulled out the small flask hidden in one of the pockets.Fire gobbled the body of the woman up. Cherry flattened her face against the stench of burnt rose.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
terça-feira, 12 de maio de 2009
segunda-feira, 11 de maio de 2009
domingo, 10 de maio de 2009
sexta-feira, 8 de maio de 2009
amor
- Álvaro de Campos, 21-10-1935
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
quarta-feira, 6 de maio de 2009
terça-feira, 5 de maio de 2009
cherry ghost ...
segunda-feira, 4 de maio de 2009
elegia do ciúme
se o meu desejo não morreu?
Sonho contigo, virgem morta,
e assim consigo (mas que importa?)
possuir em sonho quem morreu.
Sonho contigo em sobressalto,
não vás fugir-me, como outrora.
E em cada encontro a que não falto
inda me turbo e sobressalto
à tua mínima demora.
Onde estiveste? Onde? Com quem?
— Acordo, lívido, em furor.
Súbito, sei: com mais ninguém,
ó meu amor!, com mais ninguém
repartirás o teu amor.
E se adormeço novamente
vou, tão feliz!, sem azedume
— agradecer-te, suavemente,
a tua morte que consente
tranquilidade ao meu ciúme.
David Mourão-Ferreira, in "Tempestade de Verão"